Masturbação na Infância: como lidar com este desafio?



Em pleno inicio de semana onde a Parada Gay de São Paulo virou noticia em todo o País, e reaquece a discussão sobre a sexualidade e, principalmente, a intolerância sobre o que é diferente, é fundamental que toda pessoa que educa e participa do crescimento de uma criança busque conhecimento a cerca da sexualidade na infância.

Ha muitas bibliografias de várias áreas do conhecimento sobre o assunto. Mas sugiro para os pais e jornalistas que queriam abordar o tema, que visitem o site Radar da Primeira Infância . Além de ter uma linguagem bem bacana, e sem mistificações, colabora bastante para ampliarmos nossa visão sobre o assunto!

No site Delas foi publicado uma entrevista com especialista no assunto, e pode ser lida logo abaixo!
Fundamental e urgente se faz abordar o assunto. E estudar sobre a bordagem, que deve ser sem preconceitos e de forma natural. Afinal, sexo é natural. A autodescoberta da sexualidade também. E ela sendo bem abordada e orientada, pode colaborar para que as próximas gerações sofram bem menos com a intolerancia e as confusões internas, do que a geração atual!





A masturbação é um ato natural na vida de um ser humano que, no entanto, é habitualmente mais comum a partir da adolescência ou pré-adolescência de um jovem. Apesar disso, sabemos que algumas crianças de tenra idade recorrem também à masturbação como forma de autodescoberta e autoconhecimento do seu corpo, sem que isso envolva qualquer tipo de conotação sexual. Perante este comportamento inesperado, alguns pais ficam apreensivos e não sabem como agir, nem de que forma devem encarar esta fase. Falámos com Olga Reis, Psicóloga Clínica, que nos explicou tudo sobre a masturbação precoce na infância e tranquiliza os pais.

Por que razão ocorre a masturbação na infância?
 Quando o bebé nasce está ávido de novas descobertas e, entre milhares de coisas no seu desenvolvimento, também inicia um grande e longo caminho de exploração pelo próprio corpo. Com a mesma vontade que suga o peito da mãe e/ou biberão na procura de alimento, ele coloca as mãos, dedos e pulsos na boca – trata-se da fase oral da sexualidade infantil, como lhe chamou Sigmund Freud, e é um período que vai dos primeiros meses até cerca dos dois anos. No entanto, a exploração do corpo não para. Com o passar do tempo esta atividade exploratória chega às zonas erógenas e entra em cena a masturbação que, e infelizmente, ainda hoje tem uma grande carga de preconceitos e muitos tabus. As crianças descobrem os seus genitais da mesma forma que vão descobrindo as outras partes do corpo. A masturbação é natural, normal e saudável. Ela faz parte da vivência da própria sexualidade e está ligada à experimentação e ao reconhecimento da criança pelo próprio corpo, sendo que, ainda por cima, dá prazer e satisfação.

A partir de que idade esta poderá ocorrer?
 A descoberta do sexo (genital), ou melhor, das sensações que este causa, ocorre muito cedo, por volta dos 6/7 meses, nos esquemas sensoriomotores, ou seja, quando, por exemplo, damos banho ao bebé, trocamos as fraldas, passamos o creme, o que favorece a descoberta do corpo. Mas é só a partir dos 2/3 anos que começa a acontecer a masturbação propriamente dita. A criança vai se apercebendo das partes que constituem e formam o seu corpo e, de forma natural, descobre os genitais. Nesta fase a masturbação é mais intensa pois a criança ainda está muito voltada para si mesma.

O tipo de masturbação na infância pode ser comparado à masturbação na adolescência e/ou na idade adulta, ou são completamente diferentes? A masturbação na infância tem alguma conotação sexual?
 Não!… e não! Primeiro devemos ter bem assente que a sexualidade e a masturbação infantil não estão relacionadas com o erotismo e o ato sexual em si. A masturbação infantil não é acompanhada de fantasias sexuais. Na minha opinião estar a associar a masturbação infantil a algo erótico, lascivo e com malícia é transportar para a infância as leituras sinuosas e tortuosas dos adultos. A masturbação infantil é uma gratificação meramente sensorial, ou seja, que conduz a sensações que dão prazer à criança, mas que também pode ajudar no alívio de tensões. Não há, em situações normais, qualquer carácter sexual. A prova de que as crianças não têm qualquer sentimento “menos próprio” é que o fazem à frente de toda a gente.

Qual a função da masturbação na infância? Qual a aprendizagem para a criança em termos físicos e psicológicos?
 Como referi anteriormente, a masturbação infantil está apenas ligada à experimentação, descoberta e reconhecimento da criança pelo próprio corpo e à busca pela satisfação e prazer, muitas vezes com uma necessidade natural de descarregar tensões e acalmar a criança, servindo o mesmo propósito que, por exemplo, o chuchar no dedo ou balancear-se. Neste sentido, diria que a experimentação, descoberta e reconhecimento pelo próprio corpo e a necessidade de descarregar tensões e de se acalmar são as principais finalidades.

Tendo em conta que a masturbação é um tema tabu, sobretudo quando é precoce, como podem os pais encarar e lidar naturalmente com este facto? Como os tranquilizar e assegurar de que é normal?
 Como já referi, a masturbação infantil é algo normal e natural e como tal é assim que deve ser encarada. É necessário e urgente que os pais/cuidadores tenham “mente aberta” no que respeita à sexualidade da criança. O que acontece, regra geral, é que a erotização que a maior parte dos adultos faz no que diz respeito à masturbação infantil é que tende a gerar desconforto, apreensão e repreensão. É muitas vezes a atitude negativa por parte dos crescidos, que fazem da masturbação infantil um “bicho de sete cabeças”, que leva ao aumento das tensões e da curiosidade, reforçando assim a masturbação. As crianças, conforme vão crescendo, começam a aperceber-se das diferenças entre os meninos e as meninas onde começam a ser comum as perguntas do tipo “por que é que eu tenho uma pilinha, e a mana um pipi?”, “por que é que a mãe tem maminhas grandes?”, “quando eu crescer a minha pilinha também vai cair e eu fico igual à mãe?”, “por que é que a mãe/pai tem cabelos no pipi/pilinha?”,… e a este tipo de perguntas deve responder-se de forma natural e tranquila, sem grandes “floreados” e com explicações simples. Devemos dizer sempre a verdade e nunca inventar outras coisas (o mesmo serve para as perguntas “de onde vêm os bebés”). Ah, uma coisa importante é ensinar o nome correto das partes genitais, vagina ou vulva e pénis, porque é algo importante para a prevenção e proteção da criança a possíveis situações de violência sexual. As brincadeiras de médicos também são muito comuns, em que as crianças da mesma idade se examinam. São apenas comportamentos de descoberta e brincadeiras sem qualquer conotação sexual. Encare-as com naturalidade. Falem com os vossos filhos sobre o corpo deles e as suas partes íntimas com naturalidade. Aproveitem as perguntas deles, a hora do banho e higiene para explicar que o nosso corpo é muito especial e é só nosso, que é importante proteger as nossas partes íntimas (como se faz na praia ou na piscina). Sugiro aos pais/cuidadores um diálogo saudável e preventivo e recomendo – aliás, são leitura obrigatória – estes dois livros que são fantásticos para compreender e saber abordar estes temas com os pequenos: “A viagem de Peludim”, de Vânia Beliz e Sara Rodi, da Marcador editora, e “A sexualidade explicada aos mais novos”, de Dr. Manuel Mendes Silva, da Booksmile 20|20 editora.

Devem os pais desencorajar esta prática, ou alguma palavra mais negativa acerca da masturbação poderá ser traumatizante para a criança e afetar o seu desenvolvimento?
 A atitude certa é agir com naturalidade, a criança não deve ser desencorajada, no entanto, quanto menos os pais chamarem a atenção para o comportamento masturbatório, menos focada a criança estará nos seus genitais e nos dos outros.
 É importante parar para pensar na forma como abordamos o assunto ou como reagimos quando, por exemplo, “apanhamos” o pequeno a masturbar-se. Comentários como, “não se mexe aí porque é porco/sujo”, “que menino/a feio/a que és quando fazes isso”, “isso é porcaria e não se faz”, “se te apanho a mexer na pilinha, corto-a”, “se voltas a fazer isso, ficas de castigo”,… são proibidos. Atitudes deste tipo, de reprovação e repreensão, fazem com que a criança pense que está a fazer algo de mal, errado, proibido, que é um menino/a feio/a, sujo/a e, neste sentido, ter consequências indesejáveis, podendo levar a que o seu desenvolvimento e sexualidades fiquem comprometidos e adquirir comportamentos anómalos na sexualidade ou outro tipo de perturbações no percurso normal da sexualidade e na própria sexualidade enquanto adolescente e adulto.

Quais os sinais de que a criança pode estar “viciada” na masturbação, ou seja, que deixou de ser algo natural para passar a ser algo obsessivo, que acontece várias vezes ao dia? 
 Como em quase todas as questões do desenvolvimento infantil a intensidade, persistência e frequência podem ser um indicador de existir um problema. Podem ocorrer situações em que a criança parece estar “viciada” na masturbação. É preciso entender que estas podem ter carácter físico e/ou emocional. Por exemplo, pode ocorrer uma infeção, alergia, dermatite, hipersensibilidade cutânea, e nestes casos a criança manipula excessivamente os genitais como forma de aliviar o desconforto. Situações em que a criança se masturba excessivamente e parece alheada e absorta de tudo podem estar, por exemplo, relacionadas com grandes carências de conexão física por parte dos cuidadores e, neste sentido, originar tensões demasiado elevadas. Aqui a criança masturba-se como forma de aliviar essa carga ansiogénica. Outro tipo de situação a ter em atenção é quando a masturbação assume um caráter sexual, ou seja, a criança simula posições sexuais, solicita contacto físico excessivo, há penetração de objetos, repetição e insistência na masturbação após intervenção de uma criança mais velha ou adulto. Em qualquer um destes casos deve procurar ajuda especializada.

Como lidar com a criança que pratica a masturbação num local público? O que devemos dizer para que entenda que é algo que deve fazer apenas na privacidade do seu espaço?
 Devemos tratar a situação o mais natural possível. Sem pânicos, não tenha uma atitude de reprovação ou nojo, e não emita juízos de valor. Retire a criança da situação/local e depois explique-lhe que não faz mal nenhum mexer no nosso corpo. Que é nosso e temos todo o direito de fazê-lo, mas que devemos fazê-lo quando estamos sozinhos, no nosso quarto ou na nossa casa de banho. Diga, por exemplo: “Eu sei que é bom e que te sabe bem quando mexes aí, mas deves fazê-lo quando estás sozinho no teu quarto. Por isso é que todas as pessoas andam vestidas e protegem as partes íntimas com cuequinhas. Até na praia ou na piscina usamos fato de banho, verdade?” Depois desvie a atenção dele para outra atividade. No caso das escolas os educadores e todos os que lá trabalham deveriam agir da mesma forma. Penso que é muito importante a educação sexual nas escolas, mesmo a partir do ensino pré-escolar. É triste, mas ainda continuamos a ver a educação sexual como algo pecaminoso e lascivo. A maioria de nós cresceu sem que alguém falasse da sexualidade de forma natural. Aliás, sempre veio carregada de culpa e vergonha. Por isso é que para a maioria é muito difícil compreender a sexualidade e masturbação infantis. A educação sexual é uma ferramenta muito importante para orientar as crianças, fornece-lhes ferramentas para que cresçam de forma reflexiva e responsável em relação a estes assuntos. É também uma forma de prevenir a violência sexual. Para além disso, a sexualidade é um conceito tão vasto, é muito rica e nestas idades em nada se aproxima da conotação sexual: ela engloba o corpo, as emoções, o comportamento e até a cultura.

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